O sotaque mineiro é famoso no Brasil pelo jeitim de falar único e as inúmeras expressões e gírias regionais. Algumas são tão engraçadas que viram até meme por aí! Minas tem praticamente um dialeto próprio, que apelidamos carinhosamente de mineirês.
Além disso, nós, mineiros(as), temos mania de engolir o final das palavras (e, às vezes, também o início), emendar uma palavra na outra e pronunciar “cantando” — ainda puxando o “r”, em algumas regiões como Sul de Minas e o Triângulo Mineiro.
Convidamos ocê agora prum dediprosa cheio de mineiridade: bora intendê mió esse tanditrem doidimai que mineiro fala. Pegue um cafezim e se achegue!
Vão cumeçá intão cas apresentações, némez?
Cumé qui cê chama? — Como é seu nome?
Cê é fí di quem? — Você é filho de quem ou quem são seus pais? (principalmente no interior, é muito comum identificar a pessoa pela família).
Doncêé? — De onde você é?
Oncêmora? — Onde você mora?
Que qui cê faiz? — O que você faz/com o que você trabalha?
Agora prestenção pra não respondê coisa que num tem nadavê quando um mineiro te perguntá um “trem” (qualquer coisa):
Cê tá bão/boa? — Você está bem?
Cadiquê? — Por causa de que/por que motivo?
Oncêvai? — Para onde você vai?
Doncôvim? Oncotô? Oncovô? — De onde eu vim, onde estou, para onde vou?
Que cê tá arrumano? — O que você está fazendo?
Bora/vambora? — Vamos nessa/vamos embora?
E aí, vão? — Vamos?
Prônóstâm’íno? — Pra onde nós estamos indo?
É mêz? — Sério?
Némêz? — Concorda?
Cuma? — Como é que é? O que foi que você falou?
Cê fraga? — “Saca”/entende?
Cantázora? — Que horas são?
Contáujôgu? — Qual o placar do jogo?
Quanquié? — Quanto custa?
Cê sa se esse ôns pas na Savas? (essa é clássica e já virou uma espécie de “piada interna”) — Você sabe se esse ônibus passa na Savassi (bairro de BH)?
Tem “tamém” aquelas perguntinhas retóricas (qui num pricisa di respondê):
Tá doido? — expressa surpresa/espanto
Tem base um trem desse? — Acredita nisso? (reação diante de algo absurdo ou sem nexo)
Tem cabimento? — o mesmo que “tem base?”
Procê aprendê a se localizá na casa (ou na cidade) de um mineirim:
Badapia — debaixo da pia
Tradaporta — atrás da porta
Denduforno — dentro do forno
Ladilá — do lado de lá
Nêscantaqui — nesse canto aqui
Logali (ou pertim) — para o mineiro, essa distância que pode variar de 100 m a 100 km, aproximadamente.
Segue reto toda vida — seguir na direção indicada em linha reta (prepare-se para andar um cadim, viu?).
Procê num ficá pirdido nu tempo em Minas Gerais oh:
Ansdionte — antes de ontem
Dominquivem — domingo que vem
Isturdia — outro dia
Sápassado — sábado passado
Sés setem — sete de setembro
Gostô? Intão bora intendê mais um cadim dessa muntuera de trem que a mineirada fala:
A
Acudir — socorrer
Aqui — serve para começar qualquer frase, sem tradução ou motivo específico
Ah neein! — interjeição que representa desânimo, desapontamento ou discordância
Apear — descer
Arreda — chega pra lá, se afaste! (A não ser que o mineiro deixe explícito: “arreda pra cá!” Aí você deve se aproximar).
Ataiá — cortar caminho
Atazaná — encher o saco
Azideia — Olha as ideias! (geralmente, se trata de uma crítica)
Armaria — Ave Maria! (geralmente, indica espanto ou desaprovação)
Arroiado — cheio
B
Bagaça — coisa ruim
Biscoito — bolacha (essa é polêmica!)
Bitela — alguma coisa muito grande
Blusdifrí — blusa de frio
Bobajada — um amontoado ou sucessão de bobagens
Bololô — confusão, bagunça
Bubiça — bobagem, coisa à toa
Bunidimais — bonito demais (Cê ficô bunidimais cum esse cabelo, sô! — cuidado, pode conter ironia)
Burricido — chato, aborrecido (“Larga mão de cê burricido, ou!”)
C
Cabuloso — estranho ou complicado
Caçar encrenca — procurar confusão (“Pára de caçá increnca e vai trabaiá, sá!”)
Cacunda — costas
Cambada — grupo de pessoas (“Ô, cambada de gente à toa, na praça uma hora dessa!”)
Cadim, cadiquim ou tiquim — um pouquinho
Cadivó — essa é facil, vai: casa de vó
Caduzôto — casa dos outros (“Nessa pandemia nóis num tá podenu ir na caduzôto à toa…”)
Capazzz — de jeito nenhum, não tem nem perigo (de ir, falar, fazer ou acontecer tal coisa)
Cascá — descascar (uma fruta, por exemplo)
Cascar fora — ir embora, escapar
Catira — negociação que envolve troca de bens (um queijim da roça por um pacote de café torrado e moído na hora, por exemplo)
Causo — história, relato
Cêbesta — deixa de ser besta (pode também indicar perplexidade diante de algum fato/informação)
Cê dá trabai dimais! — Você dá muito trabalho (importuna, incomoda, gera preocupação)!
Cê já coisou o trem? — Você fez aquilo? Preparou? Está pronto?
Cêmêz — você mesmo
Cêquisabi — você é quem sabe
Cocê — com você (“Xôilácocê” — deixa eu ir lá com você)
Coitádocê — coitado de você (pode indicar pena ou desdém)
Constipá — constipar, resfriar, gripar (“Minino, sai dessa friági si não cê vai constipá!”).
Conversa fiada — conversa à toa, sem importância ou sem lógica
Copada — copo cheio de qualquer coisa (“Tomei uma copada de suco ansdionte!”).
Corbombero — Corpo de Bombeiros
Córgu — córrego
Crendeuspai — essa você pode clicar para conferir a explicação completa neste outro post aqui!
Cuais — quase
Culiado — envolvido em uma conspiração
Cum força — usado para expressar intensidade (“Bão cum força!”)
Curuiz — variante de “cruz credo!”, expressa aversão ou espanto
Custoso — coisa difícil ou pessoa mal comportada (“Que trem custoso, cêbesta!”)
Bençôi — Deus te abençoe!
D
Deus ti pague — agradecimento
Di butuca — espiando, observando
Difis — difícil
Dimaidaconta — muito, exagerado (“Bão dimaidaconta!”)
Dintirim — o dia inteiro
Disfeita — ofensa, menosprezo, desaforo (“Vô cumê só um pedacim pra num fazê disfeita…”)
Disgrama — algo ruim, variação de “desgraça”
Di vera — é verdade
Doidimai — muito legal, irado!
Dôsdileite — essa você não só entende o que é, como sabe que o mineiro é o melhor disparado!
E
Ê, lasquera! — quando se tem uma surpresa boa ou ruim
Eita, ferro! — geralmente, significa que alguém está lascado/se meteu em uma encrenca daquelas
Encasquetá — colocar uma coisa na cabeça e não mais tirar
Engastaiá — agarrar, emperrar, estragar
Enrabichado — enrolado/envolvido romanticamente com alguém
Espia — olha, observa
Esse trem tá coisado, não tá? — esse negócio tá estranho/enrolado/difícil/complicado/suspeito
F
Facidéia — faço ideia, entendo
Fí — filho, porém usado para chamar qualquer um que não necessariamente seja seu filho
Ficativo — fica esperto, não dá bobeira
Ficá veiáco — ficar esperto, precaver-se
Fingir de égua — se fazer de bobo
Fédazunha — xingamento alternativo ao “filho da…”
Friági — frio intenso
G
Gastura — aflição, desconforto
Gradicido — agradecido
Graúdo — grande, volumoso
Górinhamêz — agora mesmo, nesse instante, acabou de acontecer
Guela — garganta
Guenta a mão — espera um pouco
Grazadeus — graças a Deus
I
Ino — indo
Inté — até mais
Intojado — chato, esnobe
Intorná — entornar/derramar
Invém — está vindo/chegando
Inventá moda — agir de maneira inusitada
Iscumungado — ordinário, sem vergonha
Isfriô — esfriou
J
Jacú — bobo, ignorante
Jiriza — ojeriza (nojo, aflição)
L
Laía — o contrário de “invinha” (“Onde cê laía hoje cedo, na hora que eu invinha da igreja?”)
Lavar vasilha — lavar louça
Levar tinta — se ferrar
Lídileite — litro de leite
Lombêra — preguiça, corpo mole (geralmente depois de comer muito tropeiro, carne de porco, dôsdileite…).
M
Manota — “mico”, vexame, ato falho ou inconveniente
Manoteiro — vacilão
Marmota — usado para se referir a algo feio ou estranho/esquisito
Mastumate — massa de tomate
Matula — marmita
Mí — milho
Mió qui tá tenu — o melhor que está tendo/é o que há no momento
Moda — música “raiz”/caipira
Muncado — um pouco
Mundaréu — um amontoado de coisas
Mundovéi — uma grande quantidade
Muntuêra — aglomeração
Murrinha — pode ser mau cheiro ou chatice/reclamação repetitiva/murmúrio insistente
N
Nhaca — mau cheiro impregnado ou má sorte/encosto/mau olhado
Néca de pitibiriba — jamais, em tempo algum
Népussivi — não é possível/não acredito nisso
Nigucim — qualquer coisa pequena
Nimim — em mim
Nirvusia — estado nervoso
Nu jeito — pronto para algo/situação oportuna
Nuh — “Nossa senhora” que virou “Nossinhora”, depois “noh” e, finalmente “nuh”: interjeição usada para expressar espanto ou intensidade (“Nuh, que trem mai bão!”).
Num dô conta — não consigo ou não entendo/não engulo isso
Num é dival — não é válido
Num garra não — não tem problema
Num guento — o mesmo que “num dô conta”
Num me amola não, sô! — não enche o saco
O
Ô, bobo — rejeição/desapontamento
Ô, bondade — Que coisa boa!
Ô, dó — pode indicar pena ou desconfiança (no mesmo sentido de “duvido!” ou “até parece…”)
Ô, íngua — Que chatice!
Óia, só — advertência para chamar atenção para algo ou alguém
Ôua — espanto/susto/desaprovação
Ópcêvê — Olha pra você ver
O trem tá feio — A situação tá complicada
P
Padaná — muito, bastante
Paia — sem graça, nada a ver, sem noção
Panhá — apanhar, pegar
Paradeza — falta de movimento
Passá manta — passar alguém para trás, dar um golpe, causar prejuízo
Pegano o boi — tendo mais que o merecido
Pelando — muito quente
Pelejânu — batalhando, lutando
Picá a mula — ir embora, dar o fora
Pingando de sono — com muito sono
Pititinho (a) — pequenininho (a)
Pocar — estourar
Pópôpó — pode pôr o pó (e passar um cafezim) <3
Pondiôns — ponto de ônibus
Pópegá — pode pegar
Pra dedéu — muito, pra caramba
Prosa ruim — conversa chata, desagradável
Prus côco — feito de qualquer maneira, sem cuidado ou sujeito despreocupado/desleixado
Q
Quais — quase
Quidicarn — quilo de carne
Quitanda — termo usado para se referir a quitutes como roscas, bolos, biscoitos ou à loja que vende essas quitandas (e também frutas, verduras e legumes).
Qui nem — igual (“Achou meu irmão parecido comigo? Nuh, igualim qui nem!”).
R
Rachá os bico — morrer de rir
Rapa do tacho — filho mais novo, caçula
Remedá — arremedar, imitar
Rilia — conflito, briga
Rôizdoce — arroz doce
Ruditrás — rua de trás
S
Sá — feminino de “sô”
Sartá de banda — ir embora, “dar no pé”
Saudadocê — saudade de você
Sácoméquié — sabe como é
Sem doce — sem açúcar (“Esse café tá muito forte e sem doce!”).
Sumiduai — “Você está sumido! Há quanto tempo não te vejo?”
Sungar — levantar, erguer
T
Taiá o sangue — irritar-se
Tem as manha — tem habilidade com algo
Ter um troço — ser surpreendido, ter um ataque de nervos
Tem gái não — sem problemas
Teve bão — foi ótimo, gostei
Tidiguerra — Tiro de Guerra
Tô garrado(a) — pode ser tanto no sentido literal (“tô agarrado no trânsito”, que está lento/parado; ou “tô agarrado no trabalho”, com muita coisa pra fazer) como no figurado (“tô dentro/não perco por nada”).
Tô poco me lixano — não me importo nem um pouco/”tô nem aí”
Trapaiado — bagunçado, desorganizado
Trem — absolutamente qualquer coisa
Trenheira — um monte de “trem”/quaisquer objetos misturados
Trupicar — tropeçar
Turrão — rabugento, ranzinza
U
Uai — uai é uai, uai!
Uaifai — versão mineira da internet sem fio
V
Vacaiado — avacalhado, desleixado
Varado di fome — com muita fome
Vidiperfum — vidro de perfume
X
Xingo — ofensa
Xopô — deixa eu por
Xôvê — deixa eu ver
Xuxá — passar em/molhar/enfiar (“Xô xuxá o pão nesse resdimôi aqui…”).
Z
Zé Dendágua — mané
Zói da cara — muito caro
E aí, já tá speaking fluent mineirês?
Chegando em Beagá, é importante saber identificar o nome das principais avenidas e pontos turísticos quando pedir informação pra um mineiro:
- Augusdilima (Avenida Augusto de Lima)
- Fônsupena (Avenida Afonso Pena)
- Palásdazarti (Palácio das Artes)
- Pradaliberdade (Praça da Liberdade)
- Prástação (Praça da Estação)
- Rudomendoim (Rua do Amendoim)
- Rugoiais (Rua Goiás)
- Santê (Santa Tereza)
- Tôin Cars (Avenida Antônio Carlos)
- Amazôns (Avenida Amazonas)
- Veniducontornu (Avenida do Contorno)
- Viisprés (Via Expressa)
Vamu vê agora como os mineirim pronunciam o nome de algumas cidades mineiras:
- Baité (Abaeté)
- Berlândia (Uberlândia)
- Beraba (Uberaba)
- Birité (Ibirité)
- Carmóps (Carmópolis)
- Divinóps (Divinópolis)
- Bitiúr (Ibitiúra de Minas)
- Livêra (Oliveira)
- Mons Clas ou Mons Clars (Montes Claros)
- Oru Pretu (Ouro Preto)
- Patiminas ou Padiminas (Patos de Minas)
- Peleopoldo (Pedro Leopoldo)
- Tiófilotôni (Teófilo Otoni)
- Xizdifora (Juiz de Fora)
Faltou a sua? Deixe seu comentário pra gente incluir! Conhece mais alguma expressão mineira que não tá aqui? Comenta tamém, uai!
Sabemos que existem muitas variações linguísticas entre as diferentes regiões de Minas Gerais e que compartilhamos algumas dessas expressões e estilos de pronúncia com outras regiões e estados do Brasil que fazem divisa com MG (como Goiás e Bahia). Leia também: Minas tem muitos sotaques: cê conhece todos?
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