Minas Gerais é 4º maior estado do Brasil e faz fronteira com outros seis estados: Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, formando com esses três últimos a região sudeste.
Soma-se à questão da localização geográfica o histórico de formação do estado, que atraiu muitos forasteiros e estrangeiros, principalmente no ciclo do ouro e no período da expansão ferroviária. Isso tudo resultou em uma grande riqueza cultural e também em uma das maiores variações linguísticas do país.
Embora o mineiro tenha um jeitim de falar bem característico, que é famoso no Brasil todo, há diferentes tipos de sotaques em Minas, que podem ser divididos em 4 principais. Quer saber quais são eles e entender melhor as diferenças regionais do nosso mineirês? Vambora!
Sotaques de Minas viraram objeto de estudo
Maria do Carmo Viegas, professora da faculdade de Letras UFMG e doutora em estudos linguísticos, é uma das maiores referências em pesquisa sobre o sotaque mineiro. A partir de estudos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Var-Fon (Variação Fonético-Fonológica, Morfológica e Lexical), ela organizou os livros Minas é plural e Minas é Singular, com textos próprios dela e também de outros professores e pesquisadores da área.
Em 10 anos de pesquisas, foram identificados e estudados 4 tipos de sotaques mineiros divididos de acordo com as regiões onde cada um deles é falado, com influências evidentes de estados vizinhos a essas regiões. Confira a seguir!
Regiões Norte, Noroeste e Vales do Jequitinhonha e Mucuri: falar baiano
Devido à proximidade com a Bahia, nessas regiões o sotaque mineiro absorveu características como a pronúncia de vogais bem abertas (ex: mé-renda, có-varde, né-blina) e outras gírias faladas também pelos baianos.
Além disso, os mineiros-baianos (tem combinação melhor que essa?) pronunciam bãnãna em vez de “bá-nana”, “mutcho” e “otcho” no lugar de “muito” e “oito”, “idadi” e “denti” e não “idadji” e “dentchi” como no resto do estado.
Zona da Mata: falar fluminense
Há quem diga que os juizforanos sejam os “cariocas de Minas”. Na cidade que faz divisa com o estado do Rio e em outros municípios daquela região, o “chiado” característico do carioquês — perceptível principalmente na pronúncia do “s” com som “x” — foi incorporado ao mineirês (também uma bela combinação, não acham?).
Em algumas dessas cidades, como Piranga, também se nota a pronúncia mais aberta das vogais, por estar na área de “transição” entre o falar baiano e o fluminense.
Regiões Sul, Sudoeste e Triângulo: falar sulista ou paulista
A característica mais marcante do sotaque dessas regiões, que estão mais próximas da divisa com São Paulo, é o “r” retroflexo (porrrta, porrrteira, porrrtão), herança do falar caipira, presente também em algumas regiões dos estados de São Paulo e Goiás. Outro aspecto característico desse linguajar caipira é a supressão do nh e do lh, transformando, por exemplo, pertinho em “pertim” e filho em “fio” — que já virou simplesmente “fi”.
O estereótipo do caipira que “fala errado”, aliás, muitas vezes associado à figura do mineiro, já foi motivo de chacota e pode ser que ainda seja em alguns contextos menos evoluídos. Mas a gente mesmo acha isso uma bubiça e que nosso sotaque é, na verdade, um trenzim bunitim dimaidaconta, sô!
Região Central: falar mineiro
Na Central Mineira, da qual faz parte a capital, Belo Horizonte, incluindo sua região metropolitana e outras cidades ao redor, como Ouro Preto, Sete Lagoas, Itabira, Bom Despacho, Pará de Minas, Nova Serrana e Conselheiro Lafaiete, é onde seria falado o mineirês “autêntico”, com menos influências “externas”, por assim dizer. Nessas bandas, não se nota a presença do “r” retroflexo, por exemplo, nem das vogais abertas.
Há quem diga, ainda, que o sotaque falado em BH, mais especificamente, seria diferente de todos os outros. Talvez nele haja, na verdade, traços dos demais sotaques combinados, já que a capital recebe imigrantes de todas as regiões do estado, o que pode ter contribuído para nivelar esses sotaques.
Embora haja algumas diferenças sutis e outras mais marcantes, não só na questão da pronúncia, mas também de gírias e expressões que são próprias de cada região de Minas, há muito em comum entre todas ou em grande parte do território mineiro. Essas características podem variar, ainda, de um município para outro, ainda que estejam na mesma região.
A mania de engolir o final das palavras (“pertim”), emendar uma na outra (“cadivó”), dispensar o plural (“pega seus trem”, “vamo lá”) e o “r” do infinitivo (“rezá“, “torcê”) , comer parte do gerúndio (“andano”, “ino”, “viajano” ) são algumas das peculiaridades que temos em comum entre os sotaques de Minas.
Outra característica marcante do sotaque mineiro, de modo geral, é o alteamento das vogais pretônicas, como a pronúncia “i” no lugar de “e” (“ixplicar”, “intender”) e de “u” no lugar de “o” (“durmir”, “cumer”).
Também observamos, em boa parte do estado, a monotongação dos ditongos, com redução dos encontros vocálicos a apenas uma vogal (“loco, “poco”, dexa”, “caxa”) e a ditongação sibilante (“treis”, “veiz”, “freguêis”) — vai entender, né, sô? A gente tira letras de umas e coloca em outras.😂
Nu fim das conta, mineiro gosta mesmo é de arredá, coisá o trem, passá um cafézim e cumê um queijim… Nuh, bão demais! Pura minerice correndo nas veias e no coração da gente! E se ocê também morre de orgulho do nosso mineirês, que cê acha de literalmente vestir a camisa?