Um dos principais clubes mineiros e do Brasil, o Cruzeiro Esporte Clube foi fundado em 2 de janeiro de 1921 como Societá Sportiva Palestra Itália, por membros de uma colônia italiana em Belo Horizonte. O time usava também as cores da bandeira daquele país: o uniforme dos jogadores era composto por camisa verde, calção branco e meias vermelhas.
Em 1922, ano seguinte à sua fundação, o clube comprou um terreno que pertencia à prefeitura, onde hoje fica o Parque Esportivo do Cruzeiro. Em 23 de setembro de 1923, foi inaugurado o primeiro estádio do time, no Barro Preto, construído por jogadores e associados — a maioria da colônia italiana de Belo Horizonte, composta em grande parte por operários da construção civil.
No corpo social do Palestra predominava a classe trabalhadora, como pedreiros, policiais, marceneiros, pintores e comerciantes, filhos dos imigrantes que vieram construir a capital mineira, e herdaram a profissão dos pais.
A princípio, apenas membros da colônia e descendentes de italianos poderiam participar da equipe, regra que acabou caindo em 1925, quatro anos após a fundação do clube, com a retirada da cláusula que restringia a inscrição de jogadores e associados que não fossem de origem italiana. Naquele momento, houve também um aportuguesamento do nome do time, que passou a se chamar Sociedade Sportiva Palestra Itália. Mas essa foi só a primeira mudança — de algumas — até o nome definitivo ser escolhido.
Ficou curioso(a) e quer saber um pouco mais dessa história, além de títulos, ídolos e outras curiosidades sobre o time celeste? Continue com a gente, uai!
De Palestra Itália a Cruzeiro Esporte Clube
No ano de 1936, ex-atletas que haviam se tornado dirigentes do clube mobilizaram uma pretensa nacionalização do Palestra. Esse movimento ficou conhecido na época como Ala Renovadora, e encontrou resistência a princípio, mas aos poucos foi ganhando mais adeptos.
Já existia ali a intenção de mudança de nome do clube, que não era mais uma associação exclusiva da colônia italiana. O primeiro nome proposto foi Renovadora Football Clube, alterando também as cores do time para verde e branco. Eles chegaram a realizar alguns treinos com esse nome, porém uma ala da diretoria rejeitou a ideia.
Em 30 de janeiro de 1942 — durante a Segunda Guerra Mundial, na qual o Brasil declarou guerra aos países do eixo (Alemanha, Itália e Japão) —, o então presidente Getúlio Vargas publicou um Decreto-Lei determinando a proibição do uso de termos e denominações referentes às nações inimigas em entidades, instituições e estabelecimentos no Brasil.
Na primeira partida após o decreto, contra seu principal rival, o Atlético-MG, em 1º de fevereiro de 1942, o time entrou em campo de uniforme azul com três listras brancas (inspirado pela seleção da Itália), sem escudo e sem nome. Três dias depois, em 4 de fevereiro de 1942, a diretoria adotou o nome provisório de Palestra Mineiro.
Após a publicação de um segundo Decreto-Lei, de 31 de agosto de 1942, foi convocada uma assembleia em 7 de outubro de 1942, na qual foi aprovado o nome do clube que permanece até os dias de hoje: Cruzeiro Esporte Clube, em homenagem ao símbolo maior da pátria: a constelação Cruzeiro do Sul, presente na bandeira brasileira.
A sugestão foi do ex-presidente do clube, Oswaldo Pinto Coelho. Houve uma confusão na época em relação ao nome Ypiranga, anunciado anteriormente pelo então presidente Ennes Cyro Pony, que acabou renunciando ao cargo naquela mesma assembleia.
Este nome seria uma alusão ao local onde foi proclamada a Independência do Brasil, e a imprensa, naqueles dias, inadvertidamente passou a se referir assim ao clube, antes que a assembleia determinasse, de fato, o novo nome. Contudo, o nome Palestra ainda foi usado até o fim de 1942, pois a Federação do Futebol só aprovou os novos estatutos no começo de 1943.
Também existe uma confusão em relação ao nome Yale. Há quem acredite que esse time teria dado origem ao Palestra Itália e, depois, ao Cruzeiro. Todavia, tratava-se de outro clube fundado, também, por descendentes de italianos em Belo Horizonte, e que chegou a jogar contra o Palestra em 4 partidas no Campeonato da Cidade. Após uma crise e diante do crescimento do adversário, parte dos jogadores e associados do Yale migraram para o Palestra.
Queda e ascensão
Nos primeiros anos já como Cruzeiro Esporte Clube, o time conquistou o tricampeonato mineiro em 1943, 1944 e 1945, e reformou seu estádio, que passou a se chamar Juscelino Kubitschek, em homenagem ao então governador do estado. Uma arquibancada coberta foi construída e a posição do campo foi alterada.
As despesas com as obras deram origem a uma crise financeira, que culminou com a dispensa de todo o quadro de jogadores profissionais em 1952. Os juvenis foram promovidos ao time principal e o clube passou a funcionar em um regime semi-amador. Para equilibrar as finanças, a saída encontrada foi disputar amistosos pelo estado em troca de cachê. Todavia, para além do dinheiro, o clube foi conquistando cada vez mais torcedores no interior do estado, tornando-se aos poucos o clube mais popular de Minas.
A volta por cima veio com a construção da sede social no Barro Preto, aumentando a arrecadação do clube. Com as contas em dia, o time voltou a ser grande e formou o esquadrão tricampeão mineiro de 1959 a 1961.
Com a inauguração do Mineirão em 1965, o futebol mineiro ganhou projeção nacional, rompendo em definitivo com sua característica provinciana. Após uma final tensa contra o Galo no primeiro clássico jogado no estádio, o Cruzeiro foi campeão mineiro daquele ano, inaugurando a Era Mineirão, na qual o Cruzeiro conquistou os principais títulos da história do futebol de Minas Gerais.
Títulos do Cruzeiro
A primeira conquista significativa da história do Cruzeiro foi o tricampeonato mineiro em 1928, 1929 e 1930, sendo os dois últimos de forma invicta, ainda na época de Palestra. O crescimento do time forçou os outros clubes da cidade a se organizarem, criando em 1933 a primeira liga profissional do estado: a Associação Mineira de Esportes.
Duas vezes vice-campeão mundial, o Cruzeiro é um dos clubes brasileiros com mais títulos internacionais, sendo duas Copa Libertadores da América, duas Supercopa da Libertadores, uma Recopa Sul-Americana, uma Copa Ouro e uma Copa Master da Supercopa.
No futebol nacional, conquistou cinco vezes a Copa do Brasil e quatro Campeonatos Brasileiros (sendo um deles ainda como Taça do Brasil).
Em nível estadual, foi 36 vezes campeão do Campeonato Mineiro, além de vencer as Copas Sul-Minas e Centro-Oeste em âmbito regional.
O Cruzeiro foi o primeiro e único clube brasileiro a conquistar a Tríplice Coroa nacional, vencendo um campeonato estadual, uma Copa do Brasil e um Campeonato Brasileiro na temporada de 2003.
Curiosidades e fatos marcantes sobre o time celeste
O primeiro jogador do clube de origem não-italiana foi Nereu, que era da colônia sírio-libanesa e jogava antes no Sírio Horizontino.
O Cruzeiro tem, oficialmente, a maior torcida do estado e a quarta maior da região Sudeste, com aproximadamente 8,5 milhões de torcedores espalhados pelo país.
Na década de 90, o time iniciou uma impressionante sequência de 15 anos ganhando, pelo menos, 1 título por ano.
Em setembro de 2009, a Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFH), entidade alemã reconhecida pela FIFA, elegeu o Cruzeiro como o melhor clube brasileiro do século XX.
Em 14 de julho de 2008, o então prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, sancionou a Lei nº 9.590/2008, instituindo o Dia do Cruzeiro e Dia do Cruzeirense, comemorado anualmente no dia 2 de janeiro, data de fundação do clube celeste.
Em 2019, o Cruzeiro foi rebaixado para a série B pela primeira vez na história, retornando à série A em 2022. Após um período difícil para o clube, em agosto de 2021 foi criado o Cruzeiro SAF (Sociedade Anônima do Futebol), como forma de reestruturar as finanças e o clube de modo geral. A XP Investimentos ficou responsável pela captação de investidores. O comprador foi o ex-jogador Ronaldo (Fenômeno), que desembolsou R$400 milhões na transação.
O Cruzeiro também se destaca em outros esportes, como o atletismo, com grandes nomes da modalidade competindo em nível nacional — como o corredor Franck Caldeira, que já vestiu a camisa do clube —, além de ter uma das equipes de vôlei masculino mais importantes do país, formada em parceria com a Associação Social e Esportiva Sada — tendo conquistado um Mundial de Clubes, dois Sul-Americanos, uma Superliga Nacional, uma Copa Brasil de Vôlei e cinco estaduais.
Por que Raposa?
Em 1945, o cartunista Fernando Pierucetti, conhecido como Mangabeira, foi quem criou o mascote do time: a Raposa. A inspiração veio do espírito ágil e sagaz do animal, em homenagem ao então presidente do clube, Mário Grosso, que tinha fama de sempre de antecipar o arquirrival nas contratações.
Além disso, o fato de a raposa se alimentar de galináceos, em alusão ao mascote do Atlético-MG, foi uma espécie de “indireta”, brincando com a rivalidade entre os dois principais clubes mineiros. Mangabeira foi quem criou, também, o mascote do Galo.
Em 2003, o departamento de marketing do Cruzeiro criou o Raposão, mascote que sempre entra em campo com o time e anima a torcida. Acompanhado do Raposinho e da Raposona Salomé, faz a festa não somente nos jogos, mas também em visitas sociais e outros eventos organizados pelo Cruzeiro.
Ídolos do Cruzeiro e cruzeirenses ilustres
Os primeiros grandes ídolos do clube foram Tostão, Dirceu Lopes, Piazza e Raul Plasmann. Tostão foi o primeiro jogador de um time mineiro a jogar a Copa do Mundo em 1966. Em 1970, quatro jogadores do Cruzeiro participaram da conquista do Tr pela Seleção Brasileira: Tostão, Piazza, Fontana e Brito.
Reconhecido mundialmente por sua excelente estrutura, o Cruzeiro foi responsável por revelar grandes talentos do futebol, como Ronaldo, Maicon, Gomes, Luisão, Wendell, Jussiê, Belletti e muitos outros.
Outros ídolos do clube ao longo da história foram Charles, Boiadeiro, Douglas, Ademir, Renato Gaúcho, Roberto Gaúcho, Nonato, Dida, Ricardinho, Marcelo Ramos, Fábio Júnior, Alex Alves, Cris, Sorín, Alex, Ramires e o goleiro Fábio, que fez uma grande história no time.
Sobre cruzeirenses ilustres, podemos citar grandes nomes da música mineira, como Samuel Rosa (vocalista do Skank), Fernanda Takai (vocalista do Pato Fu), Gusttavo Lima (cantor sertanejo), Cláudio Venturini (vocalista do 14 Bis), Maurinho Berro D’água (ex-vocalista do Tianastácia), Lô Borges (um dos fundadores do Clube da Esquina), Milton Nascimento e Paulinho Pedra Azul.
Outros cruzeirenses famosos são Padre Fábio de Melo, Romeu Zema (atual governador de Minas), Gislaine Ferreira (Miss Brasil 2003 e ex-apresentadora da TV Globo), o rapper Sidoka, as atrizes Débora Falabella, Letícia Sabatella e Gorete Milagres (conhecida pela personagem Filó), os atores Jackson Antunes, José Mayer e Iran Malfitano, a youtuber e influencer Camila Loures e o humorista Saulo Laranjeira, dentre outros que poderíamos citar.
Seja ocê cruzeirense, seja atleticano, uma coisa não dá pra negar: essa rivalidade forma um dos maiores clássicos do futebol nacional — motivo de orgulho para nós, mineiros. Também não podemos deixar de mencionar o América, que fez história na Era Independência.
Aqui na Bendizê é bem dividido: um sócio é Galo e o outro é Raposa! Conheça também a história do Atlético – MG.