Quem foi Tiradentes na história da Inconfidência Mineira

Nascido em 12 de novembro de 1746 na Vila de São José, Capitania de Minas Gerais, Joaquim José da Silva Xavier ficou conhecido como Tiradentes por conta de um dos inúmeros ofícios que exerceu ao longo da vida: o de “dentista amador”. Embora não tivesse formação para tal, considerando também que os primeiros registros dessa profissão constam apenas de 1800 em diante — data posterior à sua morte, em 1792 —, ele “cuidava de dentes”, o que naquela época era basicamente extrair dentes de maneira rudimentar e dolorosa.  

De origem humilde, Tiradentes perdeu os pais de forma prematura. Ele foi criado pelo padrinho em Vila Rica — atual Ouro Preto. Trabalhou como tropeiro (condutor de tropas de animais), minerador e mascate (vendedor ambulante), mas foi como alferes da cavalaria imperial que alcançou certa estabilidade e passou a se interessar por política. 

Quer saber qual a origem do feriado de Tiradentes (21 de abril), a relação dele com a cidade que leva seu nome e conhecer um pouco mais da história dessa figura célebre de Minas Gerais? Acompanhe a seguir!

O que foi Inconfidência Mineira

A Inconfidência Mineira foi um movimento mobilizado pelas elites da Capitania de Minas Gerais contra o domínio português, ocorrido em meados de 1788. Além da influência dos ideais iluministas — que também inspiraram o movimento de independência dos Estados Unidos em 1774 —, alguns fatores contribuíram para a insatisfação dos inconfidentes em relação ao Império Português.  

Um dos principais era a cobrança de impostos sobre os colonos pelas riquezas minerais extraídas na região. A atividade mineradora se concentrava principalmente em Vila Rica. A região se tornou o centro econômico e cultural do país, junto com São João Del Rey e Sabará. 20% de tudo o que fosse extraído deveria ser repassado à Coroa, o que caracterizava o Quinto.

Mesmo com a queda na extração do ouro, que com o passar do tempo se tornou escasso, — além da questão do contrabando — não houve diminuição nos impostos cobrados , de modo que foram se acumulando dívidas. A Coroa portuguesa acreditava que seus lucros com a arrecadação de impostos provenientes da mineração haviam diminuído por causa dos contrabandos e de sonegação por parte dos brasileiros. Assim, instituiu a derrama, que confiscaria os bens dos devedores como forma de pagamento dessas dívidas, inflamando ainda mais os ânimos. 

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A influência do Iluminismo

O Iluminismo foi um movimento intelectual que ocorreu nos séculos XVII e XVIII na Europa, e buscava gerar mudanças políticas, econômicas e sociais.  Filósofos e pensadores criticavam a monarquia e o poder absoluto dos reis. A Revolução Francesa, que ocorreu no mesmo ano da Inconfidência Mineira, foi fortemente influenciada por esse movimento.

Historiadores apontam que o pensamento iluminista chegou ao Brasil por meio de estudantes brasileiros enviados por suas famílias, que faziam parte da elite econômica da colônia, para estudar na Universidade de Coimbra, em Portugal — e boa parte desses estudantes eram de Minas Gerais.

Sabia que a concepção da bandeira de Minas Gerais teve influências do Iluminismo, da Inconfidência Mineira e de Tiradentes?

O papel de Tiradentes na Inconfidência Mineira

Apesar da pouca instrução, Tiradentes tinha grande poder de comunicação e espírito revolucionário, com inclinações republicanas. Era quem levava as discussões ocorridas em reuniões privadas dos inconfidentes a ambientes populares, como tavernas e bordéis, conquistando mais adeptos para a causa. 

Os inconfidentes chegaram a planejar o assassinato do visconde de Barbacena, nomeado governador da capitania para execução da derrama. Na  gestão dele, Tiradentes teria sido, ainda, destituído do comando da cavalaria que fiscalizava uma importante estrada da região, o que seria mais um motivo para que participasse ativamente do movimento. 

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O grupo, que incluía membros da aristocracia mineira, como coronéis, poetas e advogados, tinha planos de tomar o controle da Capitania de Minas Gerais, abolindo as taxas impostas pela Coroa portuguesa. 

No entanto, em 1779 a conspiração foi denunciada por um dos membros do grupo: Joaquim Silvério dos Reis delatou os antigos companheiros para se livrar de dívidas pessoais com a Coroa portuguesa e em troca de benefícios para sua própria família. Assim, a derrama foi suspensa e eles foram perseguidos e presos antes que pudessem levar a cabo o que planejavam. 

As investigações (ou devassa) se estenderam por três anos. Durante esse período, muitos negaram participação no movimento, com exceção de Tiradentes, que sempre admitiu abertamente seu envolvimento. A sentença saiu em 1792, condenando 10 inconfidentes à morte por enforcamento. Contudo, a rainha D. Maria I interviu para que nove deles fossem perdoados, sendo apenas expulsos do Brasil (degredo). 

A sentença de morte foi mantida apenas para Tiradentes, e há duas hipóteses para que isso tenha acontecido: uma seria pelo fato de ele não pertencer à elite mineradora — diferentemente de outros inconfidentes, como os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga — e, portanto, não tinha influências junto à Coroa. A outra seria por ele ter sido o único a confessar claramente sua participação na revolta, de modo que sua morte serviria de exemplo para outros que cogitassem se rebelar contra o Império.

Assim, Tiradentes foi usado como bode expiatório. Sentenciado por traição à rainha, teve seus bens confiscados, a casa queimada e a terra salgada — tornando-a improdutiva para o cultivo, castigo comum à época. Além disso, todos os seus descendentes foram declarados infames. Tiradentes foi enforcado no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro

Em seguida, seu corpo foi esquartejado em quatro partes, que foram distribuídas pela estrada que liga o Rio a Ouro Preto — onde ele vivia e ocorreram as movimentações da Inconfidência Mineira. Sua cabeça foi exibida em uma estaca na praça principal da cidade, que hoje leva seu nome. Contudo, na primeira noite em que estava lá, a cabeça sumiu e nunca mais foi encontrada.

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Tiradentes: de mártir a herói

A figura de Tiradentes ficou esquecida por um tempo durante o período Colonial. Depois veio o Período Imperial e, com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, ele passou a ser considerado um herói da nação, simbolizando a luta com a monarquia, que acabara de ser derrubada. 

Em 3 de dezembro de 1889 a cidade onde ele nasceu, até então Vila de São José, passou a se chamar Tiradentes. Hoje, é um dos principais destinos de turismo histórico e gastronômico do país. Outra figura importante da cidade que teve grande participação na Inconfidência Mineira é Padre Toledo. Sua casa, onde ocorriam reuniões de inconfidentes da região, é considerada um dos principais patrimônios arquitetônicos e culturais da cidade de Tiradentes, e foi transformada em museu, com visitação aberta ao público.

Em 1890, o campo da Lampadosa, no Rio de Janeiro, onde Tiradentes foi executado, recebeu o nome de Praça Tiradentes. O primeiro monumento dedicado a ele foi instalado em Ouro Preto no ano de 1897. O quadro Tiradentes esquartejado, de Pedro Américo, tornou-se uma das obras históricas de maior importância do país.

Tiradentes é o único brasileiro que teve a data de sua morte transformada em feriado nacional, por meio da lei nº 4. 897, sancionada no ano de 1965 durante o governo do marechal Castelo Branco, já na primeira fase do Regime Militar no Brasil. Na ocasião ele recebeu o título de patrono cívico da nação brasileira.

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