A bandeira de Minas Gerais atual é composta por fundo branco, com um triângulo equilátero vermelho ao centro, envolto pela seguinte frase: Libertas quæ sera tamen, escrita em preto. Ela foi instituída pela lei estadual 2.793 de 8 de janeiro de 1963, sancionada pelo então governador José de Magalhães Pinto. A proporção oficial da bandeira é 7:10.
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Para além dessas “informações oficiais”, há algumas controvérsias sobre a origem e os simbolismos presentes na bandeira de Minas. Continue a leitura e fique por dentro dessa história!
A relação da bandeira de Minas com a Inconfidência Mineira
A tradução da frase em latim estampada na bandeira de Minas é “liberdade ainda que tardia”, que seria o lema da Inconfidência Mineira. Esse foi um dos principais movimentos ocorridos na história de Minas, organizado por uma pequena elite de Vila Rica (atual Ouro Preto), que incluía intelectuais, religiosos, militares e fazendeiros.
A Inconfidência, também chamada de Conjuração Mineira, visava a independência do estado em relação à Coroa Portuguesa. O estopim que fez eclodir a revolta foi a “derrama”, uma operação fiscal realizada para cobrar impostos atrasados. Do ouro extraído em nossas terras, deveria ser pago anualmente 30% ou ⅕ valor, motivo pelo qual esse imposto ficou conhecido como Quinto.
Quando não era pago devidamente e os valores atrasados se acumulavam, a Coroa Portuguesa fazia a “derrama”, confiscando até mesmo os bens dos devedores. Os líderes do movimento, portanto, eram os endividados com o real erário Português, e também pretendiam angariar apoio popular na luta anticolonial para transformar o Brasil em uma República.
No entanto, há historiadores que defendem a tese de que, na verdade, os inconfidentes pretendiam construir um Estado independente, de modo a garantir o controle do espaço político e social da região, com a emancipação dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro (pois precisavam de uma saída para o mar e a capital do país ainda era lá).
O alferes (patente que equivale a tenente) Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, foi considerado um dos principais líderes dos inconfidentes, o que também é questionado por historiadores, que sugerem que a participação dele teria sido secundária. Contudo, por ter sido o único que assumiu sua participação na conspiração, foi condenado à pena de morte, o que contribuiu para torná-lo uma espécie de mártir na história. Tiradentes é o único brasileiro cuja data de morte virou feriado nacional (21 de abril).
A concepção da bandeira de Minas já foi atribuída a ele, que teria sugerido o triângulo em alusão à Sagrada Trindade (liberdade, igualdade e fraternidade), ligada à maçonaria. Esses também eram os ideais da Revolução Francesa. Embora tenha ocorrido no mesmo ano (1789) e já tenha sido apontada como uma das influências da Inconfidência Mineira, na verdade ela aconteceu depois. O que se pode dizer é que ambas foram influenciadas pelos ideais do Iluminismo.
A bandeira de Minas teria sido criada para ser adotada após a Independência, que só ocorreu, de fato, 33 anos após a Inconfidência Mineira, em 1822. Já a República foi proclamada alguns anos mais tarde, em 1889.
A origem da frase “Libertas Quæ Sera Tamen”
O autor da frase da bandeira de Minas seria o poeta Inácio José de Alvarenga Peixoto, mais conhecido pelos seus dois últimos sobrenomes. Ele também foi um dos inconfidentes e teria se inspirado em um verso das Bucólicas (1.27), do grande poeta romano Virgílio: “Libertas, quæ sera tamen, respexit inertem“, cuja tradução é “Liberdade, a qual, embora tarde, (me) viu inerte”.
Há controvérsias sobre a tradução de “Libertas Quæ Sera Tamen”, que para alguns seria “Liberdade ainda que tardia, todavia…”, o que não faria sentido. Então, para os que defendem essa tradução a frase correta para a bandeira seria “Libertas Quæ Sera”, sem o “Tamen”. Certo ou errado, assim perderíamos o famoso meme do “Bão Tamen” usando a bandeira de Minas e fazendo um trocadilho com o sotaque mineiro.
Antes que se chegasse à frase escolhida, no entanto, outras sugestões foram consideradas (todas em latim). Cláudio Manuel da Costa sugeriu os lemas: “Libertas a quo spiritu” (Liberdade do espírito) e “Aut libertas aul nihil” (Ou liberdade ou nada). Como podemos notar, o que havia em comum entre todos eles era a palavra “liberdade”, que de toda forma estaria na bandeira de Minas Gerais.
A escolha das cores da bandeira de Minas
O esboço inicial da bandeira teria sido feito pelo poeta Cláudio Manuel da Costa, um dos principais articuladores da Inconfidência Mineira. Em seu desenho, ele propôs três triângulos nas cores da bandeira francesa — fundo branco, representando o Poder Executivo; azul, representando o Poder Legislativo e vermelho, representando o povo — e, no meio, um índio rompendo grilhões.
Tiradentes é que teria sugerido o triângulo único e a cor escolhida inicialmente seria o verde, simbolizando a Revolução Francesa. Embora não haja consenso a respeito, o vermelho teria prevalecido de modo a representar o ideal revolucionário.
Ao que parece, a bandeira “definitiva” foi uma junção das sugestões de Cláudio Manuel da Costa (fundo branco), Tiradentes (triângulo único) e Alvarenga Peixoto (frase).
Controvérsias históricas à parte, a bandeira de Minas é linda demais, né não? Aproveite a visita em nosso blog e conheça agora também os 8 patrimônios imateriais de Minas Gerais!