O primeiro estádio de futebol de Belo Horizonte ficava onde hoje é o Mercado Central, e pertencia ao América. Quase em frente, no local em que atualmente está o Minascentro, foi o primeiro estádio do Atlético. Na época, esses dois clubes eram os maiores rivais de Minas.
Depois, o Coelho migrou para o bairro Santa Efigênia, no Alameda, onde hoje há um supermercado, e o Galo para o Estádio de Lourdes, onde atualmente é o Diamond Mall. O Cruzeiro, por sua vez, tinha o JK, no Barro Preto, único estádio próprio da história do clube celeste, onde atualmente existe ainda a sede social e o parque esportivo.
Em 2020, o Atlético deu início à construção de um novo estádio no bairro Califórnia (região oeste), o Arena MRV, que deverá ser inaugurado em 2022, com capacidade para 46 mil pessoas.
Hoje, os principais estádios de BH são o Mineirão e o Independência, maiores e mais afastados da área central da cidade. Ambos contaram com iniciativas do governo do estado para serem construídos e mantidos, o que contribuiu para que alcançassem esse patamar.
Continue a leitura e conheça um pouco mais da história desses dois gigantes (o da Pampulha e o do Horto), que representam muito para o futebol mineiro e também têm sua importância no cenário nacional.
Estádio Governador Magalhães Pinto (Mineirão)
Quinto maior estádio do Brasil atualmente, com capacidade para 62.000 pessoas, o Mineirão também é conhecido como Gigante da Pampulha ou Toca da Raposa — apesar do imbróglio atual envolvendo o Cruzeiro e a administradora do estádio por causa de dívidas. Ele já foi palco de partidas históricas e também de grandes shows — como Kiss, Roger Waters, Elton John, Paul McCartney, Beyoncé e Pearl Jam — e de festivais como Axé Brasil e Pop Rock Brasil.
Sua construção teve início em 1963, e o projeto ficou a cargo dos arquitetos Eduardo Mendes Guimarães Júnior e Gaspar Garreto. Erguido sobre 88 pilastras dispostas em forma de elipse, ocupa uma área de quase 300 mil metros quadrados. Inicialmente, o terreno seria destinado à cidade universitária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cujo campus é vizinho ao Mineirão. Em 1960, o então governador José Francisco Bias Fortes intermediou um acordo entre o governo federal e a Universidade que resultou na liberação para a construção do estádio.
A primeira partida ocorreu em 1965: um amistoso entre a Seleção Mineira e o time argentino River Plate, e foi acompanhada por 73.201 torcedores. O placar foi de 1 a 0 para o time da casa, com gol marcado pelo atacante Buglê, que na época defendia a camisa do Atlético Mineiro. O recorde de público do Mineirão foi em 22 de junho de 1997, em um jogo entre Cruzeiro e Villa Nova na final do Campeonato Mineiro, que reuniu nada menos que 132.834 pessoas.
De lá para cá, além dos clássicos entre Atlético Mineiro e Cruzeiro — os dois principais times mineiros da atualidade — que sempre atraem um público expressivo, o Mineirão recebeu jogos importantes de vários campeonatos estaduais, nacionais e mundiais, como o Mineiro, a Copa do Brasil, a Libertadores e até a Copa do Mundo. Aliás, não podemos nos esquecer do traumático 7 a 1 entre Brasil e Alemanha, que infelizmente ficou marcado na história do estádio.
Mas falando de títulos (melhor mudar de assunto, né?), foi no Mineirão que a Raposa conquistou duas Libertadores, em 1976 e 1997. Em 2013, foi a vez do Galo.
Cinco Brasileiros também foram conquistados pelos clubes mineiros nos gramados do Mineirão: o Cruzeiro em 1966 (quando o campeonato ainda era denominado Taça do Brasil), depois em 2003, 2013 e 2014. Em 1971, quando o torneio passou, então, a ser chamado de Campeonato Brasileiro, o Atlético sagrou-se campeão.
Outros jogos emblemáticos da história do estádio foram o 6 a 2 do Cruzeiro sobre o Santos de Pelé — feito inédito para a época — e a vitória do Atlético por 2 a 1 sobre Seleção Brasileira, que depois disso nunca mais jogou contra clubes.
O maior artilheiro da história do estádio é o ex-jogador do Galo, Reinaldo, com 144 gols marcados.
Uma grande tradição do Mineirão é o famoso tropeiro, um dos pratos típicos da culinária mineira, que há décadas é consumido nas arquibancadas do estádio e já virou parte do ritual — estima-se que sejam vendidas 2 toneladas e meia a cada jogo.
Para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos no Brasil em 2016, o Mineirão passou por uma modernização que o transformou em Arena Multiuso, atendendo ao padrão internacional.
Aproximadamente 100 mil turistas o visitam a cada ano. Na entrada, há placas em homenagem a clube nacionais e estrangeiros que passaram por seu gramado. No salão principal, uma exposição de pôsteres de todos os times mineiros campeões.
No interior do estádio, o Museu Brasileiro do Futebol (MBF), inaugurado em 2013, guarda um acervo de camisas, taças e outras relíquias que ajudam a contar a história futebol mineiro e do Brasil. É possível fazer um tour guiado, em que além de ver tudo isso, os visitantes conhecem também os vestiários.
O Complexo inclui, ainda, a Esplanada, uma área construída de 80 mil metros quadrados, com vista para a Lagoa da Pampulha, onde ocorrem grandes shows e eventos, como o Planeta Brasil. Nos dias normais, fica liberada para a prática de esportes como skate, patins, corridas e caminhadas, com toda uma infraestrutura, que inclui segurança, banheiros, lojas e lanchonetes.
No entorno do estádio, além de escolher entre vários bares e restaurantes, os visitantes podem aproveitar para conhecer o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, uma das grandes obras modernistas brasileiras.
Atualmente, a administração do estádio fica a cargo da Minas Arena, uma parceria do setor público-privado com o Governo de Minas Gerais.
Estádio Raimundo Sampaio (Arena Independência)
Com capacidade atual de 23 mil lugares (inicialmente eram 30 mil), o Independência é uma das principais casas do futebol mineiro. O estádio foi inaugurado em 1950 para a Copa do Mundo, realizada pela primeira vez no Brasil naquele ano.
Na primeira partida, a seleção da Iugoslávia ganhou de 3 a 0 da Suíça. Quatro dias depois, os Estados Unidos venceram a Inglaterra por 1 a 0, no que foi considerada a “maior zebra da história da Copa”. Isso devido ao favoritismo evidente da seleção que, embora estivesse disputando seu primeiro Mundial, era considerada superior e representava o país inventor do esporte, frente à falta de tradição da seleção estadunidense no futebol.
No terceiro e último jogo daquela Copa realizado no Gigante do Horto, o Uruguai, que viria a ser o campeão, goleou a Bolívia por 8 a 0 — maior do que essa só a goleada do América sobre o Jataiense-GO por 9 a 0 em 2006 pela série C do Campeonato Brasileiro.
Inicialmente, o estádio pertencia ao Governo de Minas. Em 1965, com a inauguração do Mineirão, ele passou a ser propriedade do time Sete de Setembro, razão pelo qual ficou conhecido como Independência. O nome oficial do estádio também é uma homenagem a um ex-presidente do clube.
Depois de um período difícil em meados dos anos 80, em que o Independência chegou a ficar desativado por um tempo, em 1989 foi firmado um contrato de comodato pelo América por 30 anos, que depois foi prolongado por mais 50. Em 1997, o time alviverde incorporou o Sete de Setembro, se tornando proprietário do estádio.
Após passar por reformas de modernização que ampliaram o conforto e a segurança do estádio — toda a estrutura foi demolida e reconstruída, com exceção dos vestiários —, ele foi rebatizado como Arena Independência, em 2012, quando houve, inclusive, uma reinauguração.
O amistoso entre o América e o Argentinos Juniors (da Argentina) fez parte da comemoração do centenário do time mineiro, que ganhou de virada por 2 a 1. Foi a última partida da carreira do atacante Euller, grande ídolo americano, e a estreia do lateral-esquerdo Gilberto.
No período das obras no Independência, o Mineirão também estava sendo reformado, o que obrigou os clubes da capital a jogarem por dois anos em estádios fora de BH, como a Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, o Ipatingão, em Ipatinga, e o Parque do Sabiá, em Uberlândia.
Depois da reforma, o estádio ficou cedido pelo América ao Governo de Minas até 2037. Para conseguir mantê-lo, foi aberta uma licitação à iniciativa privada, vencida pelo grupo paulista BWA em dezembro de 2011.
Em fevereiro de 2012, a empresa firmou uma parceria de âmbito comercial com o Atlético Mineiro, válida por 10 anos, o que dá ao clube o direito a 45% do resultado líquido apurado pela BWA, enquanto o América (proprietário) e o Governo de Minas recebem 5,35% do faturamento bruto.
O Governo fiscaliza a administração do estádio, que é de responsabilidade da Concessionária Arena Independência, formada pelas empresas Ingresso Fácil e BWA Administração de Arenas.
O recorde de público do Independência foi 32.722 pessoas, na partida entre a Seleção Mineira e a Seleção Guanabara (do Rio de Janeiro), em 27 de janeiro de 1963, que foi o primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1962, disputado por seleções estaduais.
O primeiro título do América, a Tríplice Coroa Estadual, foi conquistado nos gramados do Independência em 1957. Em 1993, o Coelho voltou a ser campeão mineiro após um jejum de 23 anos, invicto nos clássicos e nas partidas disputadas como mandante no Indepa. Entre 1990 e 2001, foi uma época de glória para o time americano em seu estádio, ficando conhecida como “Era Independência”.
O Galo também teve seus momentos de triunfo no Independência. Embora a final da Libertadores de 2013 tenha ocorrido no Mineirão, por uma questão de exigência de capacidade mínima de lugares, boa parte da campanha vencedora do time alvinegro ocorreu no Gigante do Horto, inspirando o grito “caiu no Horto, tá morto”. No ano seguinte, ele também levantou sua primeira taça da Copa do Brasil ao vencer a final no Independência contra seu maior rival, o Cruzeiro.
O estádio é conhecido como “caldeirão”, e caiu nas graças da torcida pelas características de sua estrutura física que ajudam a tornar o clima das partidas “intimista”, o que pode ter contribuído para vitórias dos clubes mineiros.
Sem dúvidas, os estádios de BH, em especial o Mineirão e o Independência, fazem parte da história da capital mineira e também ajudam a contá-la, tendo grande importância não só, mas, principalmente, para os amantes do futebol, sejam americanos, cruzeirenses e atleticanos, sejam torcedores de outros times do estado ou do país.