Os irmãos Tiago e José Felipe Carneiro ficaram conhecidos pelo sucesso da cervejaria Wäls, criada em 1999 em Belo Horizonte. A famosa cervejaria mineira começou como um negócio familiar pequeno, ganhou prêmios importantes do universo cervejeiro e foi vendida para a Ambev em 2015. Mas a trajetória empreendedora da família Pedras Carneiro — cheia de altos e baixos —, começou bem antes e continua de vento em popa.
Quer conhecer um pouco mais dessa história inspiradora de empreendedorismo familiar que foi de Minas para o mundo? Continue a leitura e fique por dentro da biografia dos criadores da Wäls e da K-Happy!
A hamburgueria que deu origem à cervejaria
Miguel e Ustane, pais de Tiago e José Felipe, foram os fundadores da Wäls. Eles começaram a produzir cerveja, inicialmente, para abastecer a hamburgueria Bang Bang, primeiro negócio de sucesso da família, que já teve 26 empreendimentos: criação de frango, padaria, sorveteria, boate, entre outros — muitos deles quebraram.
O pai de Miguel era padeiro na cidade de Araxá e o pai de Ustane, açougueiro em Corinto. Então, a expertise em pão e carne já vinha das gerações anteriores. Eles chegaram a ter 22 lojas e quase 700 funcionários na Bang Bang, que acabou sendo “engolida” pelas grandes redes de fast-food.
Na época, Tiago estava com 18 anos e começou a articular a venda da cerveja produzida pela família para festas e eventos universitários. A hamburgueria começava a dar sinais de queda e eles precisavam diversificar os negócios.
Segundo José Felipe, o produto que eles tinham naquele momento era um chopp de baixa qualidade, principalmente se comparado ao que se encontra hoje no mercado cervejeiro, que se expandiu muito de lá para cá. Eles, inclusive, tiveram uma participação significativa nessa expansão, contribuindo para transformar BH em um “cinturão da cevada” — e posteriormente extrapolando as fronteiras de Minas.
A história de sucesso da Wäls
Os irmãos se envolveram nos negócios familiares desde muito novos e já estudavam sobre cervejas há muito tempo também. Com um forte DNA de inovação, foram criando, experimentando e testando novas receitas, em uma época em que pouco se falava ainda sobre cervejas artesanais no país.
Nos 8 primeiros anos, eles produziam somente a cerveja pilsen. Em 2008 foi que começaram a desenvolver rótulos especiais, inspirados principalmente nas tradicionais escolas cervejeiras belga e tcheca. BH, aliás, ficou conhecida nos últimos anos como a Bélgica brasileira, devido à qualidade das cervejas especiais produzidas por aqui, com a mesma pegada de liberdade criativa experimentada pelas cervejas belgas.
Neste cenário, a Wäls foi, incontestavelmente, uma das pioneiras, contribuindo bastante para expandir esse mercado, e também para educar os consumidores mineiros (e brasileiros). O público foi tomando cada vez mais gosto e aprendendo a degustar novos tipos de cerveja, diferentes daquela comum (e bem mais barata) a que estava acostumado até então.
Prêmios e Ambev
Em 2012, a Wäls recebeu o título de melhor cervejaria da América do Sul no South Beer Cup. Em seguida, veio a primeira parceria internacional de uma microcervejaria brasileira com um dos mestres-cervejeiros mais renomados do mundo: Garrett Oliver, da Cervejaria Brooklyn Brewery, de Nova Iorque. Ele também é autor do Oxford Companion to Beer, livro publicado pela Oxford University Press. Nessa parceria, foi criada a primeira cerveja do mundo feita com cana-de-açúcar: a Wäls Saison de Caipira.
Em 2013, veio o prêmio de Cerveja do Ano com o rótulo Wäls Bohemia Pilsen, que concorreu com mais de 500 rótulos no principal concurso nacional de cervejas. Em 2014, duas premiações no maior concurso internacional de cervejas: o World Beer Cup, em Denver (EUA). A Wäls conquistou o ouro com a Dubbel e a prata com a Quadruppel.
Naquele mesmo ano, a Ambev, braço latinoamericano da AB Inbev, maior fabricante de cervejas do mundo, propôs a sociedade, fechada no ano seguinte (2015). A promessa era de que as receitas originais da Wäls se mantivessem intactas e novas criações fossem desenvolvidas a partir dali.
Os irmãos Pedras Carneiro ficaram, ainda, por três anos trabalhando em parceria com a gigante mundial das bebidas antes de vender sua participação no negócio. José Felipe ficou responsável pela ZX Venture, uma incubadora global de inovação da Ambev.
Em 2017, a Wäls foi considerada a melhor cervejaria do Brasil pelo RateBeer, maior ranking cervejeiro do mundo. No mesmo ano, foi inaugurado o Ateliê Wäls, maior barrel room da América Latina, dedicado ao envelhecimento de cervejas.
Ateliê Wäls
“Uma barrica gigante no meio das montanhas de Minas Gerais” ou a “Capela Sistina da cerveja”. O projeto, idealizado para surpreender os amantes da bebida, foi feito pelo arquiteto Gustavo Penna: uma construção moderna e imponente, com a vista privilegiada de um dos pontos mais altos de BH, no Olhos D’água.
A casa contava com 21 torneiras de chope, sendo que 10 delas eram de exemplares produzidos exclusivamente no próprio Ateliê, e as demais com as já conhecidas cervejas da Wäls. Além de usar barricas de envelhecimento de outras bebidas, como vinho, whisky, bourbon, cachaça e conhaque, foram encomendadas novas barricas exclusivas para o envelhecimento de cervejas.
A Wäls também foi pioneira na técnica de cervejas refermentadas e em processos produtivos inovadores, como método champenoise para cervejas, feito por apenas 5 cervejarias no mundo.
No Ateliê, que funcionava como uma espécie de “bar da fábrica”, com mesas entre os tonéis e barris de cerveja, também havia um tour guiado para conhecer todos esses processos de produção.
Infelizmente, as atividades se encerraram em 2020, durante a pandemia, mantendo o espaço apenas como fábrica (com a possibilidade de retomar as visitas guiadas no futuro). A Wäls tem, ainda, outra fábrica no bairro São Francisco, um gastropub na Savassi e um restaurante no BH Shopping.
Novo Brazil e K–Happy: uma nova era empreendedora da família Carneiro
Com a venda da Wäls, Miguel e Ustane foram para a Califórnia, nos Estados Unidos, e fundaram a cervejaria Novo Brazil. Tiago seguiu os pais, se mudando para San Diego — considerada a meca da cervejaria artesanal nos EUA —, para ajudar a ampliar a cervejaria americana com alma brasileira e jeitim mineiro. E o desafio de empreender em terras estrangeiras não parou por aí!
Em uma viagem para o Havaí, a namorada de José Felipe apresentou a ele a kombucha, uma bebida gasosa feita a partir de um chá fermentado com probióticos e leveduras, e saborizado com frutas.
Ele conta que, em um primeiro momento, não deu muita bola para aquela bebida meio diferente, mas se sentiu tão bem depois de tomar que ficou intrigado. A kombucha ajuda o sistema digestivo a funcionar melhor por conta de suas propriedades. Dali surgiu a ideia do mais novo empreendimento da família: a K-Happy Kombucha.
Assim como tiveram que criar uma nova cultura em relação às cervejas artesanais no passado, agora eles apostam em um produto ainda desconhecido do público geral, e já conseguiram colocá-lo nas prateleiras dos principais supermercados brasileiros. J
osé Felipe acredita que a bebida tem potencial de ser “o novo refrigerante”, a partir da conscientização sobre os benefícios e propriedades da kombucha, seguindo a linha da busca por um estilo de vida mais saudável, que vem ganhando cada vez mais força nos últimos tempos.
Ele brinca que agora vai “bater de frente” com a Coca-Cola, já que um dos últimos lançamentos da K-Happy foi uma kombucha à base de cola. Para quem conquistou a maior empresa de cervejas do mundo, não dá pra duvidar que poderá também chamar a atenção da maior fabricante de refrigerantes, né?
Aliás, a K-Happy já é a maior fábrica de kombucha da América Latina! O objetivo da família mineira é construir a empresa de bebidas mais inovadora do mundo. A criatividade made in Minas não tem limites mesmo!